quinta-feira, 4 de junho de 2009

O REALEJO FANTASMA



O regime monárquico encarregado de organizar as festividades do aniversário do príncipe pequeno contrata diversas atrações no povoado, dentre elas, um realejo que era gerido pelo velho sábio.
A manivela girava moderadamente enquanto que a sonoridade tomava de assalto as dependências do castelo e a quinta sinfonia de Beethoven embalava o primogênito do rei,
Krathizenga, o cavaleiro-vilão procura pelo sábio e como homem livre que é, recusa-se em combater nas hostes em nome do rei.
É sabido que a ira de sua majestade é implacável com aqueles que se recusam em servi-lo e a condenação do cavaleiro-vilão acontece em meio às festividades, abrilhantando a sedenta ânsia da vingança.
O velho sábio no auge de sua sabedoria propõe a troca dos papeis e dessa forma, livrar do castigo o jovem cavaleiro.
Enquanto veste as armaduras, ensinam o aprendiz sob sua tutela os meandros do fole.
A sangria é inevitável e o Gran Vizir determina ao verdugo a execução em praça pública.
Quando a corda envolve o pescoço do ancião, o realejo envolve a todos e principalmente a mente do carrasco que num ato desesperado leva suas mãos aos ouvidos sem concluir seu ofício.
Tomado pela cólera sua majestade elimina o executor da pena e sucessivamente um a um é tombado, até que Lucas, o menino de rua, percebe a troca e anuncia às quatro luas: “senhor, senhor, não matem o sábio, ele não é o cavaleiro- vilão”.
Imediatamente os soldados do reino saem em busca do cavaleiro-vilão, mas encontram tão somente o realejo solitário propagando ao vento a quinta sinfonia. Atônitos e num gesto extremo, os soldados reverenciam o fole no exato instante em que o sábio é declarado morto.
Não mais se teve notícias do cavaleiro-vilão, mas dizem que em toda lua nova, quando os clarões dos fogos de artifícios iluminam o breu da noite, ouve-se a sonoridade do velho realejo como um lamento de dor e a silueta do sábio girando a manivela, protegendo com a música todos os infortunados.
Realidade ou quimera?

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