sábado, 28 de fevereiro de 2009

A MORENA E O VIOLEIRO

A MORENA E O VIOLEIRO

O ano! Certamente não se faz necessário lembrar, mesmo porque, a lacuna gerada no decorrer do tempo foi tamanha confundindo por completo a mente dos viventes historiadores que narram de forma dispares a realidade do sonho.
Anacleto Bendito, o violeiro solitário caminha em direção ao nada trazendo consigo um sobejo de esperança; em suas mãos o inseparável violão e a aguardente companheira dos dias de infortúnio.
Uma voz suave ao longe desperta a volúpia adormecida no gélido peito do viajante; lá esta ela, a morena mais faceira que o criador colocara aos olhos do sedento sedutor, ai começava a saga pagã de um amor platônico.
A lucidez já não fazia mais parte no relacionamento, o que de fato valia, era entrelaçar a satisfação intima em sua forma extrema, cujos deleites ficaram gravados na memória de ambos, assim afirma uma amiga do casal.
No auge da sanidade insana, conflitos foram gerados pela banalidade de fatos e talvez por orgulho ou imaturidade, os acordes do pinho foram enveredando por caminhos outros e a voz felina emudecendo, até que por fim a velha viola repousa serena num canto de sala.
Não se sabe ao certo o tamanho da lacuna que ficara para trás, mas no abismo abissal da incompreensão dois corpos mergulharam a pino e na contrição mútua um mar de lágrimas foi derramado.
Nunca mais tivemos notícias da morena e tão pouco do violeiro, mas sabíamos que ambos estavam sob o mesmo sol e regidos pela mesma lua, pois é sabido que um coração repleto de amor traz em seu bojo a chama da esperança, mesmo que o tempo e a distancia teimam em negar.
Recentemente encontrei com o violeiro na mesa de um bar, ele não trazia consigo a viola companheira, mas seus sofridos versos entoavam aos quatro ventos; lá estava ainda à fiel escudeira da morena como sempre se negando alegar o peito do cancioneiro; ela não mais recebera notícias da morena; em seu rosto, a mentira aflorava.
Uma lágrima verte no rosto do poeta e mancha o verso momentos antes declamado, rascunhado em azul no guardanapo da solidão.
Agora! A alegria voltou na face do retirante.
Eu conheço bem a história, ela sabe da verdade.
Realidade ou quimera?